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O Saber dos Sabores
Vevé Bragança
Curso de vinhos | Ver todos

Uma mudança radical no mundo dos vinhos

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Phyloxera Vastatrix

No final do século XIX, entre os anos de 1865 e 1885, o colonizador europeu tendo levado consigo, para a Europa amostras de videiras autóctones do continente americano, inadvertidamente, transportou juntamente um hóspede natural das videiras americanas, a Phyloxera Vastatrix, um minúsculo inseto, uma espécie de pulgão, comumente conhecido por filoxera.

A pequenina e terrível praga proliferou pelos parreirais da Europa, sem que os produtores atentassem para a sua silenciosa presença, tendo dizimado a maioria dos parreirais, alterando completamente o destino da vitivinicultura no mundo. A filoxera ataca diretamente a raiz da Vitis-Vinífera fazendo com que a videira morra sem começar a produzir. Já a videira americana é naturalmente imune e resistente a essa praga.

Para que possamos compreender a magnitude do estrado causado pela filoxera aos produtores europeus, podemos estabelecer uma relação com os efeitos da vassoura-de-bruxa na região cacaueira de Ilhéus no sul da Bahia, onde famílias perderam absolutamente o seu meio de vida. Evidentemente, que salvo as proporções de uma região em um estado brasileiro para várias regiões de diversos países da Europa, onde obviamente a extensão dos danos foram bem maiores.

Todavia os colonizadores europeus tenham levado as videiras americanas e a filoxera para dentro da Europa, os espanhóis, por sua vez, introduziram em algumas de suas colônias, videiras da espécie Vitis-Vinífera. No Chile os parreirais se desenvolveram de maneira bastante próspera e fora observado que as plantas não haviam sido atingidas pela filoxera, acreditando-se mais tarde, que isso ocorreu, devido àquele pais possuir barreiras naturais, como a Cordilheira dos Andes, o Deserto do Atacama e o Oceano Pacífico, as quais impediram que a filoxera alcançasse as videiras e sobrevivesse. Dessa forma, por um golpe de sorte da humanidade, ou por mero capricho da natureza, a espécie Vitis Vinífera estava salva para ser utilizada como matriz, e prosperar por meio da técnica da enxertia, uma vez que, é a copa da videira Vitis Vinífera que possui toda a informação genética da planta (DNA), necessária para garantir as propriedades organolépticas dos frutos e por conseguinte dos vinhos.

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Diagrama da técnica de enxertia

Mais do que uma técnica de reprodução de espécies vegetais, a enxertia fora a maneira encontrada pelos viti-vinicultores de garantir a sobrevivência dos seus vinhedos e consequentemente a existência dos vinhos de boa qualidade. Assim, videiras híbridas substituíram as videiras originais, dizimadas pela filoxera.

O porta-enxerto americano, que a raiz e parte do caule da videira americana, chamado cavalo funciona como simples condutor da seiva e a videira européia, chamada cavaleiro, que parte do caule e a copa da videira européia, contribui com a parte genética para garantir a qualidade da uva e por conseguinte do vinho.

A vitivinicultura moderna define assim, um novo modo de plantio, deixando-se de lado a prática de retirar a vara de uma videira mais velha e enfiá-la diretamente no solo para se conseguir uma planta nova. Há mais de um século, não é mais aconselhável o plantio em pé franco.

Ainda hoje, no Chile, existem algumas videiras centenárias, todavia pouco produtivas. Em Portugal, na Espanha e na França também existem alguns poucos vinhedos onde há videiras centenárias férteis, as quais, inexplicavelmente, não foram atingidas pela filoxera.

As videiras modernas possuem uma vida fértil de aproximadamente 25 a 30 anos. Entretanto, vale ressaltar, que apenas após o seu quarto ou quinto ano de vida é que as videiras modernas se tornam produtivas, dando frutos adequados para a vinificação.

Tudo isso posto, podemos chegar ao entendimento que os vinhos modernos, todavia possuam a mesma essência, são diferentes dos vinhos fabricados no século XIX, não somente pela evolução no estudo da química e das técnicas de vinificação, mas também, pela sua matriz.